19 novembro 2013

Festival RTP da Canção de 1970 - A polémica



Onde vais rio que eu canto?

Esta manhã ouvi, na Antena 1, David Ferreira “a contar” (é assim que se chama a “rubrica” em que intervem no programa) uma polémica relativa ao Festival RTP da Canção de 1970.

E qual foi o motivo dessa polémica? Exactamente o mesmo que motivou outras polémicas, quer nos festivais anteriores, quer nos posteriores a 1970.

Era um tempo em que Portugal parava para assistir ao evento, discutindo depois apaixonadamente a escolha que era feita por grupos de jurados que, a partir das capitais de distrito, iam dando os seus votos às diversas canções concorrentes. Não é por acaso que escrevo “canções concorrentes”, porque o que estava de facto a concurso eram as canções e não os intérpretes.

Mas, na verdade, ninguém era indiferente ao artista que interpretava a canção: não era a mesma coisa ser a Simone ou uma desconhecida “Maria dos Prazeres” (“artista” que inventei agora) a intérprete da mesma canção. Independentemente da qualidade da obra, teria sempre mais votos se cantada pela Simone, do que pela “Prazeres”.


Aqui chegado, volto ao Festival de 1970. No decorrer do Festival houve duas canções que se destacaram: “Onde vais rio que eu canto?”, com música de Nóbrega e Sousa e letra de Joaquim Pedro Gonçalves, interpretada pelo Sérgio Borges, então no auge da sua carreira, e “Canção de Madrugar”, letra de José Carlos Ary dos Santos e música de Nuno Nazareth Fernandes, “cantada” pelo desconhecido Hugo Maia Loureiro.


Canção de Madrugar

Escrevi “cantada” entre aspas, talvez com alguma dose de crueldade, porque Maia Loureiro “assassinou” uma das mais belas canções que alguma vez concorreram a estes Festivais.

E Sérgio Borges, com “Onde vais rio...” acabou por ganhar com 11 pontos de avanço, apurados no final de uma renhida disputa, onde se viram as mais díspares votações de sempre, com capitais de distrito a darem votações máximas (ou próximas disso) ora a uma, ora a outra.

Quem não aceitava a decisão final, atinha-se ao facto de o Festival ser, como já referi, de canções. E muitos diziam que se tivessem trocado os intérpretes, colocando o Sérgio na “Canção de Madrugar”, esta teria vencido com larga vantagem.

Também eu, que gostava de ouvir o Sérgio, era então – e ainda sou – dessa opinião.

Os detractores da canção vencedora costumavam trocar a ordem das palavras, e cantarolavam “Onde vais canto que eu rio?”.

Hoje mais de 43 anos depois, é uma questão quase esquecida.

Creio que Hugo Maia Loureiro começou e acabou ali a sua carreira. Pelo menos passou despercebido a partir daí. Sérgio Borges – que um ataque cardíaco levou há poucos anos – ainda continuou por algum tempo, embora já sem o fulgor dos anos do “Conjunto Académico de João Paulo”.


Cavalo à Solta

P.S. - Não foi esta a única vez em que a “minha canção” não ganhou. Também em 1971, “Cavalo à Solta”, cantado e musicado por Fernando Tordo, com letra de Ary dos Santos, perdeu. Ainda hoje a considero a melhor canção de sempre destes festivais; bem melhor do que a “Tourada”, com que ganhou o Festival, em 1973.


P.P.S. - Deixo-vos as três canções que mencionei no texto. Avaliem-nas


2 comentários:

ag disse...

http://rateyourmusic.com/artist/hugo_maia_de_loureiro Hugo Maia de Loureiro ficou em 4ª no festival de 1971 e ainda lançou um álbum pela editora Zip-Zip. Mais tarde foi um dos vencedores do concurso Visita da Cornélia.

C. Serra disse...

ag

Agradeço o seu esclarecimento.