Na imagem, James (Jim) Hacker, o Ministro dos Assuntos Administrativos, na série, e que mais tarde seria Primeiro-Ministro (papel interpretado pelo actor Paul Eddington)
Uma
sondagem recente da Universidade Católica revela que, profundamente
descrentes pela qualidade (ou pela a falta dela) dos políticos, “87%
dos portugueses se manifestaram desiludidos com a democracia”.
Depois
de ler a notícia, lembrei-me de uma série inglesa, intitulada “Yes,
Minister”, que passou na RTP com o título “Sim, Sr. Ministro”,
na década de 1980. Foi tal o seu êxito, que, os seus autores
resolveram continuá-la, e assim surgiu, mais tarde, “Yes, Prime Minister”
(Sim, Sr. Primeiro-Ministro”, na RTP).
Quem
tem mais de 50 anos recorda-se com certeza das manobras, dos
interesses e da hipocrisia que estavam por trás de todas as decisões
de carácter político.
Sir Humphrey Appleby, secretário permanente do Ministério dos Assuntos Administrativos, e mais tarde do gabinete do Primeiro-Ministro (papel interpretado por Nigel Hawthorne), que manobrava todos os cordelinhos, fazendo de Jim Hacker uma perfeita marioneta
(Em Portugal este "trabalho" de manobra é feito pelos oligarcas nacionais)
Os
autores da série publicaram o argumento em dois livros, que foram
editados pela editora Edições 70, em 1988.
Resolvi
ir buscá-los à estante e relembrar algumas das cenas.
Mas
basta a leitura de parte do prefácio do 2º volume, que cito a
seguir, para nos apercebermos, não só da fina ironia dos seus
autores – Jonathan Lynn e Antony Jay – mas também que a história se adapta como uma luva à actualidade portuguesa (e,
sobretudo, à desonestidade da maior parte dos nossos políticos, que
acaba por justificar o resultado da sondagem acima referida).
Citação:
“O
leitor de memórias políticas saberá que muitos dos diários de
políticos são modelos de honestidade e rigor, repletos de
generosidade de espírito, desprovidos de qualquer tentativa de
justificar erros cometidos. De um modo geral, os políticos falam dos
seus colegas com um calor e uma admiração que só são igualados
pela forma modesta como referem os seus próprios contributos para a
governação. Raras vezes tentam insinuar ou sugerir que todas as
medidas que propuseram se revelaram um êxito, nem afirmam ter
advertido quanto aos perigos de todas as que se revelaram
catastróficas. Os políticos são uma nobre estirpe que, com a sua
dedicação e o seu exercício altruísta do poder, transformaram a
Grã-Bretanha naquilo que ela é hoje”
Fim de citação
Substitua-se
Grã-Bretanha por Portugal, e o sarcasmo dos autores mostra-nos um
retrato fiel da hipocrisia que faz caminho entre os nossos políticos,
seja qual for a sua posição ideológica (isto admitindo que todos
têm uma outra ideologia, que não a do “venha a nós”).
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